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sexta-feira, junho 30, 2006

A Força da Palavra

Eu acredito que a palavra está em tudo e em todos, acredito que com a palavra me ergo em cada dia, lavo, nas manhãs, o rosto e saio para rua. Com palavra grito para rasgar os risos que me nos cercam.

Uma palavra devolve-me o tempo exacto. Nela me instalo. E sou feliz ou infeliz. Mas à minha maneira. Posso tapar os olhos para a não ver, os ouvidos para não ouvi-la; cerrar a boca para não pronunciá-la. Não adiante. A palavra irrompe. A palavra irromperá quer queiramos ou não. Porque a palavra é um símbolo. Com se desenham a liberdade e as algemas; com ela se estabelece a guerra e inaugura a paz.

A palavra é suavidade, loucura, são folhas e folhas esboçando um tempo a vir. É uma janela aberta, uma lágrima incontida. Partem velozes as palavras, quando se libertam. Crescem como sons e repercutem-se quando encontram o campo desejado.

A palavra é uma alta cidade que nasce às cegas, sobressaltada ou intolerante. Ou intolerável. Peça de um maravilhoso ofício, pode ser um grito doloroso, uma estrela desintegrada, um punhal acelerado.

A palavra fere, humilha, repõe, exalta, congrega, unifica, destrói. Nela respiramos e dela se alimentam os seres mais tristes ou os mais perturbados. A palavra é o drama. A luz. A angustia em tinta apressada. Por ela se desce aos infernos, com ela se exalta e se humilha. É preciso olhar bem a força da palavra. Vê-la por dentro. Descobrir-lhe a luz e ainda e sempre a outra face que esconde. Todavia, apesar de toda esta luz em que quase não reparamos uma palavra não vem. Procura-se e não vem. Espera-se há muito e não há quem a escreva. Ou quem a leia. Ou que a diga.

Procura-se uma palavra. Uma palavra que destrua a solidão; que inaugure os gestos simples, os sorrisos claros; que espalhe entre os homens a esperança e a paz, procura-se uma palavra tão breve que se confunde com um beijo que se dá sem saber porque, ou com uma lágrima ou com uma flor. Procura-se uma palavra…